quarta-feira, 10 de março de 2010

SOCIEDADE COLONIAL:

O POVO:
A sociedade colonial brasileira formulou-se pela mistura de populações originarias de três grandes matrizes étnicas: europeus, africanos e americanos.
Cada uma dessas matrizes, internamente diferenciadas, eram portadoras de culturas próprias, expressas em diferentes modos de ser e de viver. O resultado desse contato histórico foi um intenso processo de trocas culturais e de miscigenação. Esse processo não se desenvolveu harmonicamente, mas no contexto das relações desiguais marcada pela dominação da cultura européia.
O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL:
A miscigenação foi ainda uma questão-chave para compreender a formação do povo brasileiro.
A partir da independência do Brasil e, principalmente, depois da abolição da escravatura, esse tema se tornou um foco de estudos sobre a construção da identidade nacional.
Segundo vários autores, é essa mesma pluralidade biológica e cultural da população do país o elemento limitador à integração da coletividade brasileira. Como transformar essa pluralidade etno-cultural numa unidade nacional? Vários intelectuais se debruçaram sobre esse tema.
Durante o século XIX até a década de 1930, a mestiçagem era vista negativamente pelos homens da ciência. Estudiosos como Nina Rodrigues, Silvio Romero, e Euclides da Cunha acreditavam na predominância dos fatores biológicos sobre as características culturais e numa hierarquia entre as raças. Assim, a mistura entre as raças assim consideradas primitivas (indígenas e africanos) com raças consideradas superiores (europeus) produzia a degeneração dos brasileiros, pois a característica negativa de negros e indígenas acabaria prevalecendo em função de serem a maioria no processo de miscigenação.
Preocupado cm isso, esses intelectuais propuseram controlar a mestiçagem, introduzindo no país, através da imigração, raças superiores. A solução para se evitar a degerenação do povo brasileiro seria promover o branqueamento, isto é, um processo de miscigenação que incorporasse as características genéticas das raças superiores.
A partir da década de 1930, o tema miscigenação passou a ser abordado de outra forma. A explicação sobre a formação do povo brasileiro passou a enfatizar mais as características culturais do que os fatores biológicos. A miscigenação passou a ser considerada positiva, e transformada pelos intelectuais, no principal símbolo da nacionalidade.
O sociólogo Gilberto Freire, em seu livro Casa grande e senzala de 1933, considerou o mito da democracia racial, partindo das idéias discutidas pelos intelectuais das gerações anteriores. Nessa obra, considerada um clássico da historiografia, Gilberto Freire argumenta que a miscigenação entre europeu, indígenas e africanos formou no Brasil uma sociedade nas quais distintas matrizes raciais e culturais foram recombinadas de forma harmoniosa. Nesta recombinação é que estaria a nossa identidade nacional.
Na década de 1950, o mito da democracia racial começou a ser criticado por um grupo de sociólogo da Universidade de São Paulo, do qual fazia parte o professor Florestan Fernandes, e dois jovens estudantes Fernando Henrique Cardoso e Octavio Ianni. Eles destacavam as desigualdades das relações entre os europeus, indígenas e africanos ao longo da nossa historia. O que explicaria a sociedade brasileira não seria nem a raça, como queriam os cientistas do século XX, e nem a mescla cultural, como queria Gilberto Freire, mas a desigualdade das relações sociais, destacando-se a escravidão como exemplo máximo.
Assim, a intensa miscigenação racial e cultural no Brasil não conduziu a nenhum tipo de democracia. As distâncias sociais, resultante da desigualdade socioeconômica tornaram-se, no Brasil, mais perversas e insuperáveis que as diferenças étnicas. Porém ambas existem quase sempre andam juntas.